Nesta terça-feira,
27/01, foi encaminhado à CETESB – órgão responsável pelo licenciamento do
Aproveitamento Múltiplo de Santa Maria da Serra - algumas questões e também
posição do vereador em relação ao empreendimento. Segue transcrição do mesmo.
“Senhor Diretor-Presidente, baseado na
Deliberação CONSEMA Normativa 01/2011, art. 20, encaminho posicionamento de meu
gabinete em relação ao Aproveitamento Múltiplo de Santa Maria da Serra e
aguardo respostas frente aos questionamentos levantados. Solicito também que o
mesmo seja anexado aos respectivos processos administrativos.
Considerando as
cinco audiências públicas realizadas sobre o AM de Santa Maria da Serra, as
manifestações do GAEMA- Grupo de Atuação Especial em Defesa do Meio Ambiente e
as mobilizações de organizações da sociedade civil, bem como de profissionais e
técnicos relacionados à temática em questão, elencamos os seguintes
questionamentos:
Embora
o empreendimento vise à integração de diversos modais (hidrovia, ferrovia e
rodovia) e, conseqüentemente, o desenvolvimento econômico da região, a
viabilidade do projeto em questão não seria mais efetiva, avaliando os aspectos
sociais, ambientais e econômicos, se fosse considerada a extensão do sistema
ferroviário por mais 45 km ,
ao invés da execução da barragem para tornar essa distância navegável no Rio
Piracicaba? Existe esse estudo? É
possível que, caso não haja, venha a ser elaborado?
Quanto
à questão ambiental, dos 55 impactos identificados relacionados ao
empreendimento, 39% mostram-se de alta complexidade, segundo documento entregue
pelo empreendedor. No mesmo informativo, dos 31 programas ambientais previstos,
13 são de monitoramento, questionamento este já levantado pelo GAEMA. Ainda
considerando os informes do empreendedor, 3.751.000m² dentre florestas, várzeas
e campos serão suprimidos. É nesse aspecto que, novamente, levantamos a
hipótese de que a ferrovia seja estendida por mais esses 45 km e, portanto, seja
elaborado estudo sobre impactos, mitigações e compensações ambientais. Dessa
forma seria possível analisar comparativamente os dois projetos, optando por
aquele que seja mais viável nas dimensões sociais, ambientais e econômicas.
Além
disso, considerando os 600 milhões de reais assegurados pelo governo estadual e
os 900 milhões de reais disponibilizados pelo governo federal, recursos
oriundos do pagamento de impostos dos cidadãos, tal intenção de investimento
pauta-se somente no desenvolvimento econômico, visando a diminuição do preço do
frete de produtos como soja, milho, cana de açúcar e etanol, dentre
outros, os quais utilizam maquinário e
não agregam efetivamente mão-de-obra trabalhadora. Além disso, esse ganho
previsto será revertido em benefício da população, a qual bancou todo o
empreendimento, ou ficará nas mãos do agronegócio e grandes empresas?
Considerando
ainda que um empreendimento com investimentos tão elevados de recursos públicos
e com efeitos colaterais tão negativos, os quais poderão ser futuramente
mitigados, mas impossíveis de serem compensados, precisa provar com dados técnicos
concretos, perfeitamente mensuráveis e entendíveis, qual a margem de benefício
que trará à população em geral, ao interesse publico, o aumento desses 45 km de hidrovia. Assim,
algumas perguntas se fazem necessárias:
1.
Qual a tonelagem total de produtos transportados ano a ano
pela hidrovia que já está em funcionamento, nestes últimos três anos, e qual a
tonelagem transportada pelos outros sistemas de transporte, ou seja, o
ferroviário e o rodoviário?
2.
Qual foi a economia conseguida nesse transporte total pela
hidrovia em R$ e quanto isso representa em % em relação ao total de produtos
transportados por todos os meios de transporte?
3.
Em quanto a construção do empreendimento com mais 45 km de hidrovia aumentará a
economia conseguida pelo transporte hidroviário atual e quanto isso representa
em % do total atualmente transportado?
Levantamos ainda a insegurança dos moradores dos bairros
Ondinhas, Nova Piracicaba e Rua do Porto, localizados na cidade de Piracicaba,
manifestada nas audiências públicas e ao nosso gabinete quanto às enchentes que
já ocorrem com determinada freqüência nesses locais. Embora afirmado pelo
representante do consórcio que elaborou o EIA/Rima de que não ocorrerão
enchentes por conta da construção da barragem, essa hipótese deixa-nos bastante
receosos e apreensivos, já que nossa cidade tem 58 áreas sujeitas a alagamento
e 19 bairros com previsão de inundações, conforme noticiado em novembro de 2013
pela mídia local.
Para
finalizar, nos manifestamos a favor do desenvolvimento, mas do desenvolvimento
social, aquele que traz qualidade de vida às pessoas, especificamente às que
ficam aquém do chamado desenvolvimento econômico. Manifestamo-nos a favor do
meio ambiente saudável e à sadia qualidade de vida, estes que são quase sempre
subjugados por conta da busca do progresso. Manifestamo-nos a favor da coisa
pública, dos direitos difusos e coletivos."